Recomendações para escrever um bom livro técnico: conquiste os leitores com um conteúdo autêntico e engajador
A escrita de um bom livro transcende frequentemente as motivações financeiras, pois consolida a reputação do autor e também proporciona satisfação pessoal.
No âmbito acadêmico, escrever um livro demanda investigação e análise aprofundadas, e amplia significativamente o conhecimento do autor sobre o tema.
Criar um livro possui um componente altruístico, especialmente, ao compartilhar informações que inspiram e educam os leitores (Haberman; Wilson, 2023).
De acordo com Haberman e Wilson (2023), compreender a estrutura financeira da indústria editorial é fundamental para qualquer escritor em perspectiva. Geralmente, cerca de um terço dos títulos publicados por uma editora gera prejuízos, outro terço apenas se paga, e o restante gera lucros, frequentemente de forma modesta. A maior parte do faturamento de uma editora advém de poucos best-sellers.

Em relação aos livros técnicos, Haberman e Wilson (2023) destacam que é comum que as editoras ofereçam ao autor royalties que oscilam entre 10% e 15% do lucro líquido, ou seja, o total arrecadado após os descontos aplicados. As vendas podem variar de 200 a 2.000 exemplares, embora alguns títulos superem esses números anualmente.
A proliferação de cópias digitais não autorizadas, incluindo PDFs e torrents, que surgem online horas depois das primeiras vendas, afeta esses números. Supondo um preço unitário de US$ 50, o autor poderia arrecadar entre US$ 500 e US$ 7.500. No entanto, considerando que escrever o livro pode demandar mil horas de trabalho, outras atividades, como consultoria ou empregos paralelos, poderiam ser financeiramente mais vantajosas (Haberman; Wilson, 2023).
A autopublicação – publicação independente – pode resultar em royalties mais elevados, contudo, este caminho exige compensações significativas. Sem o suporte de uma editora, o autor terá que gerenciar ou terceirizar o layout, o design, a arte da capa, diversos níveis de edição (desenvolvimento, textual, revisão), além da impressão, distribuição e marketing. Essas responsabilidades necessitam de um investimento considerável de tempo, dinheiro e esforço, portanto, é necessário ponderar bem essa escolha.
Escrever um bom livro pode ser uma jornada motivada por uma variedade de razões, muitas das quais transcendem as considerações financeiras que frequentemente acompanham esse empreendimento. Assim como os músicos produzem álbuns que geram receita, bem como promovem suas turnês e vendas de mercadorias, os autores podem usar livros para construir e consolidar suas reputações, atraindo audiências para workshops e palestras.
A escrita oferece prazer comparável ao de hobbies como trabalhar com madeira ou tricotar, proporcionando uma satisfação única na escolha e no manejo das palavras. Do ponto de vista acadêmico, fazer um bom livro exige investigação e análise, o que aprofunda significativamente o entendimento do autor sobre o assunto.
Há também o aspecto altruístico, pois escrever pode servir como uma forma de retribuir à sociedade, com o compartilhamento de conhecimentos significativos para inspirar os leitores, e assim, perpetuar a cadeia de aprendizado e apoio que beneficia todos nós.

A revisão de alguns dos seus livros técnicos favoritos possibilita permite verificar as principais técnicas adotadas pelos autores destas obras, e assim, você pode enriquecer o processo de elaboração do seu próprio material. Observar a aplicação de analogias pelos autores pode destacar métodos eficazes para descomplicar conceitos complexos, e assim, facilitar o acesso ao leitor.
O emprego de diagramas é relevante, ao ponderar que a representação visual das informações pode tornar mais clara a compreensão de temas tecnicamente densos. Eaminar a proporção de exemplos práticos usados em relação ao conteúdo teórico também é pertinente para assegurar uma mistura equilibrada, de forma que os leitores compreendam e, sobretudo, apliquem o conhecimento adquirido.
Iniciar a escrita de um bom livro pode parecer um desafio desanimador. Uma estratégia eficaz para manter o ânimo e o progresso é começar a blogar regularmente. Por exemplo, você poderia se comprometer a publicar um artigo por semana, cada um contendo algumas centenas a mil palavras.

Não se preocupe em criar esses artigos na ordem final que eles aparecerão no livro. A vantagem de blogar reside justamente na capacidade de refinamento da estrutura do conteúdo, à medida que você desenvolve uma compreensão mais clara do que deveria preceder o quê.
À medida que você ganha confiança e conforto com esse processo, considere expandir posts individuais em séries que possam servir como a base para capítulos do livro. Além disso, realizar workshops usando o material do seu livro durante o processo de escrita pode revelar erros significativos nas suposições sobre seu público-alvo e o conteúdo abordado, oferecendo a oportunidade de fazer ajustes necessários enquanto ainda há tempo e energia para isso.
Conferências, instituições educacionais e plataformas de aprendizado online frequentemente buscam novos conteúdos e podem ser excelentes locais para testar e refinar seu material. Considerar sessões informais de aprendizado, como almoços com colegas, ou até mesmo iniciar um canal no YouTube, são alternativas para receber feedback direto e avaliar a recepção do seu conteúdo.
É necessário incorporar as lições aprendidas com o feedback recebido. Se você realmente ouvir e adaptar seu material com base nas respostas do seu público, provavelmente acabará reescrevendo partes do seu livro várias vezes. Ignorar esse passo pode poupar trabalho inicialmente, mas comprometerá significativamente a qualidade final do livro.
É aconselhável escrever um esboço inicial do seu livro com marcadores de posição antes de se preocupar com detalhes mais finos, como diagramas, citações bibliográficas e definições de glossário.
Um método prático para criar diagramas é utilizá-los primeiramente em um quadro branco, que oferece rapidez e flexibilidade superiores em comparação com ferramentas digitais, inclusive aplicativos de desenho para tablets.
Uma fotografia simples tirada com um telefone celular pode ser suficiente para apresentar esses esboços aos seus primeiros leitores, visto que muitas editoras tendem a refazer esses diagramas de qualquer forma, então não é necessário aprimorá-los demasiadamente na fase inicial.
Quanto à estrutura do conteúdo, é importante entender a diferença entre ensinar ao vivo e escrever um livro. Em apresentações ao vivo, você pode ajustar o conteúdo dinamicamente para preencher lacunas conforme surgem, atendendo diretamente às necessidades imediatas da audiência.

No entanto, em um livro, você deve antecipar e abordar todas as possíveis lacunas de conhecimento que os leitores possam ter, garantindo que o material seja completo e coeso. Portanto, enquanto uma aula ao vivo se concentra na intersecção do que os membros da audiência não sabem, um bom livro deve cobrir a união do que todos os leitores potenciais precisam saber.
Criar uma “persona de aprendiz” é uma técnica eficaz para focar seu público-alvo ao escrever um bom livro técnico. Uma persona é um perfil fictício que encapsula as características principais do seu leitor ideal, incluindo o conhecimento prévio, objetivos de aprendizado e desafios profissionais ou acadêmicos.
Desenvolver uma ou duas personas bem definidas – uma principal e uma secundária – pode ajudá-lo a ajustar o conteúdo do livro de maneira que seja realmente relevante e útil, ao considerar que a tentativa de atender a todos geralmente resulta em um livro que não atende bem a ninguém.
Considere as diferentes necessidades de aprendizado de acordo com o nível de experiência do leitor:
– Novatos: Eles estão formando seu modelo mental inicial sobre o tema e precisam de tutoriais que construam uma compreensão básica e estruturada.
– Praticantes competentes: Já possuem uma base e estão interessados em aprofundar seu conhecimento, preenchendo lacunas específicas.
– Especialistas: Buscam discussões avançadas sobre nuances, alternativas e aspectos técnicos complexos.
Focar em uma área específica ou em um público particular, como “Python para Web Scraping” ou “R para Bibliotecários”, tende a ser mais eficaz do que tentar cobrir um tema de maneira abrangente. Um escopo mais restrito não só simplifica o processo de escrita como também permite atingir uma porcentagem maior do público-alvo com maior precisão.
Evite escrever livros de referência, que não conseguem competir com a abrangência e atualização contínua disponível na internet. Opte por tutoriais que, mesmo que fiquem desatualizados em alguns aspectos técnicos, permanecem relevantes por mais tempo ao se concentrarem em conceitos fundamentais em vez de detalhes efêmeros.
Para garantir que seu livro se destaque em um mercado saturado, o autor deve realizar uma pesquisa abrangente sobre os recursos já disponíveis sobre o tema, não se limitando apenas a livros. Identifique onde seu público-alvo está atualmente buscando informações e aprendendo sobre o assunto – fóruns online, cursos, vídeos, webinars, e assim por diante.
Desta maneira, você pode identificar lacunas que seu livro poderia preencher, oferecendo conteúdo mais atualizado, melhor organizado, bem editado ou que ofereça perspectivas únicas e insights que estão faltando em outros lugares.
Ao preparar uma proposta para editoras, é fundamental destacar como seu trabalho difere e supera a concorrência. Este processo fortalece sua proposta, e ainda previne o esforço em escrever conteúdos que não trazem novidade ou valor agregado ao que já está disponível.
Tenha cuidado com os diferenciadores que escolhe destacar. Algumas características, como diagramas coloridos, podem parecer benéficas, mas não necessariamente justificam custos adicionais de produção ou traduzem-se em um valor perceptível significativo para os leitores ou editores, especialmente se não aumentarem a compreensão do conteúdo de maneira substancial.
Além disso, observe e analise o estilo e a estrutura dos livros que você admira. Adote um estilo eficaz que possa ser bem recebido ou alinhe o estilo do seu livro a uma série de sucesso de sua editora preferida.
O cenário editorial contemporâneo é um ambiente mais restrito em comparação com as décadas passadas, e nesse sentido, as editoras valorizam a consistência e a capacidade de replicação de formatos e séries bem-sucedidas. Seja buscando publicação tradicional ou optando pela publicação independente, aproveite as estratégias comprovadas sem reinventar conceitos básicos da indústria.
REFERÊNCIAS:
HABERMAN, Jess; WILSON, Greg. Ten simple rules for writing a technical book. PLoS Comput Biol, [s.l.], v. 19, n. 8, aug. 2023. DOI: 10.1371/journal.pcbi.1011305. Disponível em: https://journals.plos.org/ploscompbiol/article?id=10.1371/journal.pcbi.1011305. Acesso em: 19 jan. 2025.
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